07 maio 2008

Ai, Eva

Saí do Teatro Municipal do Rio na terça-feira pensando em apagar este blog. Depois de ver a Eva bailando me faltavam palavras. E se eu não consigo escrever sobre ela, o que mais me motivaria a escrever? Fiquei um tempão relembrando imagens do espetáculo e pensando em todas as bailaoras que conseguem exprimir sentimentos tão verdadeiros em movimentos às vezes tão sutis. Foi só depois que abri um livrinho sobre o Nô, teatro clássico japonês, que pude encontrar alguém que explicasse melhor os meus pensamentos soltos:

"O yûgen, princípio do charme sutil, possui um significado além das aparências, um verdade velada, que a gente sente, mas não consegue descrever, como a sensação do místico. Os fatores primordiais que constituem o yûgen são a beleza, a elegância, aliadas à suavidade; o refinamento físico e espiritual, com ressonâncias do zen."
"Mas a flor temporária da juventude, a flor do momento, a flor da voz e da graça física, a flor de antes dos 30 anos, evidente aos olhos de qualquer um, não é a flor verdadeira. Esta só se consegue através de treinamento longo e paciente e perfeito conhecimento de si mesmo. Quem conhece a si mesmo e tem um domínio completo da técnica possui a flor verdadeira e não a perde mesmo na velhice." - Darcy Kusano

Eva começou a dançar com 12 anos. Na Espanha, foi aluna de Enrique El Canastero, Angustillas La Mona, Mariquilla, Mario Maya (cujas mãos ao baile ela acredita serem as mais bonitas que já viu), Juan Furest e Jesús Domínguez e com 14 anos ela foi para Cuba estudar coreografia com Johannes García. Hoje, com 37 anos, todo seu treinamento e sua maturidade para adquirir auto-conhecimento me permitem afirmar que esta é uma artista que capturou o que o japonês chama de yûgen e o que os espanhóis por vezes chamam de duende.
"Eva, viva la madre que te parió!" - Como diria uma amiga aos prantos depois de assistir Santo y Seña. Naquele dia, assim que as cortinas se fecharam pela última vez, a única coisa que eu pensava era: Quando vou vê-la de novo?

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